27 de jun. de 2011

José Graziano precisa recuperar credibilidade da FAO - Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação

Eleito para o cargo de diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), o brasileiro José Graziano da Silva afirmou nesta segunda-feira (27), em Roma, que irá implantar uma "nova era" na agência de combate à fome. Especialistas ouvidos pelo Sul21 apontam que esta "nova era", no entanto, deve considerar a reestruturação de um organismo que tenta recuperar sua credibilidade.
Considerada um dos organismos internacionais com maior estrutura, orçamento insatisfatório e com impacto significativo nos gastos da ONU, a FAO foi duramente criticada e amargou um descrédito no cenário internacional. Nos últimos três anos, com a abertura para a participação da sociedade no Conselho de Segurança Alimentar da fundação, esta imagem começou a se modificar. A FAO tem quatro mil funcionários e 49 conselheiros de segurança alimentar.
Segundo a professora do Observatório de Políticas de Segurança Alimentar da Universidade de Brasília (UNB), Elizabetta Recine, a eleição de um brasileiro com a experiência de José Graziano pode contribuir para o avanço dos países que precisam alcançar a meta de desenvolvimento do milênio.  "A estrutura é muito mais complexa do que o alcance do diretor-geral.
José Graziano da Silva coordenou, em 2001, a elaboração do Programa Fome Zero e foi nomeado, pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ministro extraordinário de Segurança Alimentar e do Combate à Fome. Com a implantação do programa, em cinco anos foram retirados 24 milhões de pessoas da pobreza.
Para o diretor-presidente do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, Renato Maluf,  "O orçamento é reflexo da administração e da agenda de trabalho de um gestor. Assumindo alguém com o peso político brasileiro, ajudará na mobilização dos recursos necessários. 
Fortalecimento da agricultura familiar
Maluf acredita que José Graziano irá ampliar o fortalecimento da agricultura familiar e do desenvolvimento rural, que ele já propôs quando integrou o Escritório Regional da FAO. Neste sentido, a professora acadêmica Elizabetta Recine também concorda. "A revalorização da agricultura familiar foi importante no Brasil. Por mais que ainda tenha que ter avanços em crédito e acesso à terra, foram feitas coisas importantes como programa de aquisição de alimentos voltado ao pequeno agricultor e alimentação escolar com produtos da agricultura familiar. Isso qualifica a vitória do Brasil na FAO", diz.
Para Renato Maluf, que também é membro do Comitê de Segurança Alimentar da FAO, a gestão de Graziano poderá reforçar a posição do Brasil na OMC e abrir novos espaços políticos. O que seria importante para a virada da agenda das negociações comerciais no setor agrícola pautada apenas pelos interesses do mercado. "A FAO terá que ter capacidade de se impulsionar e tratar de modificar a mercantilização que vemos no G20 e na OMC. A sociedade civil aposta no mecanismo multilateral", avalia.
Desafios do futuro
José Graziano definiu cinco prioridades na sua plataforma de trabalho para a diretoria geral da FAO: combate à fome, estímulo à produção de alimentos para corrigir desequilíbrios, governança global para alimentação e segurança alimentar, reforma do órgão, além do aumento da cooperação Sul-Sul.
Os desafios para desenvolver esta plataforma não são poucos. O planeta tem quase um bilhão de pessoas mundo em situação precária e faminta. O cenário mundial indica o tamanho do desafio que o brasileiro terá a frente da agência de combate à fome.